O bom revisor de textos – Entrevista com Plínio Martins FilhoO bom revisor de textos – Entrevista com Plínio Martins Filho

Considerado um mestre na arte de fazer livros, Plínio Martins Filho é editor da Editora da Universidade de São Paulo (Edusp), da Ateliê Editorial, sua “aventura”, e professor do curso de Editoração da Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP). Um dos últimos representantes da figura do editor de livros cuidadoso e pouco interessado nos números, o professor defende o papel das pequenas editoras e fala do prazer de fazer livros para leitores que sabem degustar um bom texto e um bom projeto gráfico.
Viva Voz: Já que o senhor tem tanto envolvimento com o livro e nem tanto com a administração do dinheiro, que intervenção o senhor faz ou pede para fazer no texto. O que o senhor considera um bom profissional de texto? 
Plínio Martins Filho: Na realidade, como tive uma formação desde o texto, acho que ele deve ser lido por pessoas adequadas e o máximo de vezes possível. Sempre acho que qualquer texto tem que ter no mínimo três leituras e por três pessoas diferentes. Além disso, alguém que controle a qualidade disso, para sair uma boa revisão. Por exemplo, na Ateliê, eu tenho um revisor de texto que é uma espécie de controlador da qualidade dos textos. Passo todos os livros para ele ler. Não confio mais na minha revisão, mesmo com toda a experiência. Eu leio um livro, mas ponho sempre um revisor profissional. Não confio em quem não tem prática do texto. Aquele que faz por intuição, que faz muita crítica, que critica muito os outros, principalmente em tradução, pega a tradução e começa a falar mal, a melhor coisa é você começar a desconfiar. Por exemplo, estávamos fazendo um livro sobre economia da cultura, uma tradução francesa, de repente o professor enviou para um especialista, um desses professores citados que fizeram estudos sobre casa editorial, que não entendem nada, mas se metem a fazer isso. De repente me encontrei com ele numa feira no Rio e ele começou a falar mal da tradução. Não considero isso. O tradutor tem mais de 30 anos de experiência, conheço muito bem o profissional, nunca vi uma tradução dele ser recusada. Retirei o livro. Não posso aceitar isso. Às vezes o designer gráfico quer se projetar sobre o design do livro, tem revisor que também quer fazer isso. Ele quer ser coautor do livro. Não pode ser assim. O revisor tem que ser o profissional que vai melhorar o texto, que vai adequar, vai tornar correto. O bom profissional faz o texto ficar adequado ao leitor. 
VV: Quando o senhor fala que existe um profissional “adequado”. Qual é a formação dele? 
PMF: Principalmente ter boa formação na área de língua portuguesa, conhecer bem a língua. Se for de tradução, conhecer bem as duas línguas. E muita prática. O revisor não é só leitor, é uma técnica. Você não lê um livro fazendo revisão como se lesse um livro para fruição. O revisor ter a leitura técnica, é o profissional que pode melhorar o texto. Pode interferir, pode consultar, conversar com o autor, pode dar a melhor forma para o texto, de acordo com o autor. É preciso ter muita segurança, ter conhecimento, ter muita humildade e fazer muita pesquisa. A maioria hoje não recorre nem ao dicionário. Às vezes acha uma palavra, pensa que está em desuso e tasca outra lá. Só que a anterior estava muito mais adequada. Ou fica mudando isso por isto, através, por meio de, esses você corta porque eles só pegam o supérfluo porque aprenderam algumas regrinhas. O bom revisor precisa ter muita experiência. 
VV: É bom leitor? 
PMF: Tem que ser bom leitor, mas não da leitura de fruição. Ler letra por letra, palavra por palavra, frase por frase, parágrafo por parágrafo, capítulo por capítulo até o fim. 
VV: O revisor que o senhor respeita aprendeu tudo isso onde? 
PMF: Na prática. Inclusive tem uma formação empírica. Um revisor que eu conheço era pobre, descobriu o primeiro erro da vida dele quando foi saber o próprio nome. É um cearense que estudou em colégio de padres. Aprendeu noções de grego, latim, etc. Não fez nem o colégio, aprendeu na prática. É um excelente tradutor, não é da área da literatura. Ele mesmo diz que não é tradutor de literatura, apenas traduz corretamente, então é melhor para livros acadêmicos, ensaios, aí sim, ele tem fidelidade e não inventa. O tradutor literário precisa de um pouco mais de criatividade, precisa dar soluções. Cada um tem um limite e deve saber disso. 
RIBEIRO, Ana Elisa; COSCARELLI, Carla Viana. Conversas com editores. Belo Horizonte: FALE/UFMG, 2007.

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